Lula chega à metade de seu 3º mandato sem marca clara de governo
Aliados e até ministros da atual gestão admitem nos bastidores que, das políticas públicas lançadas ou retomadas, ainda não há nenhuma que tenha se tornado a cara do governo.

© EVARISTO SA/AFP via Getty Images
O presidente Lula (PT) chega à metade de seu terceiro governo ainda sem uma marca clara, diferentemente do que ocorreu nos mandatos anteriores, com programas como o Bolsa Família, o PAC (Programa de Aceleração e Crescimento) e o Prouni (Programa Universidade para Todos).
Aliados e até ministros da atual gestão admitem nos bastidores que, das políticas públicas lançadas ou retomadas, ainda não há nenhuma que tenha se tornado a cara do governo.
Diante desse cenário, alguns fecham os olhos para eventuais problemas concretos nas medidas e recorrem ao discurso de culpar a comunicação.
A área vem sendo o principal foco de críticas internas nesses dois primeiros anos. Lula inclusive indica começar uma reforma ministerial com a troca do atual ministro da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Paulo Pimenta.
Outros mencionam uma dificuldade mais estrutural do governo, citando em particular que as ações são pulverizadas nos 38 ministérios. Além da dificuldade de apontar uma verdadeira prioridade na prateleira de medidas, os recursos são escassos e não alcançam todas as propostas.
Auxiliares no Planalto dizem apostar em uma virada nos dois últimos anos da gestão. O próprio presidente disse, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, no ultimo domingo (15), que o próximo ano será de "colheita".
"Fizemos o PAC, lançamos todos os programas que tinham que ser lançados. E tenho dito, nós já plantamos. Agora, 2025 é o ano da colheita. Compromisso de honra meu, as coisas vão acontecer."
As mais recentes pesquisas de opinião apontam um quadro de estabilidade na aprovação do governo, mas com trajetória negativa.
O mais recente levantamento do Datafolha, divulgado na terça-feira (17), mostrou que 35% dos entrevistados consideram o governo como ótimo ou bom, mas a avaliação negativa é, numericamente, a mais elevada neste mandato.
O governo Lula 3 teve início em janeiro de 2023 com o foco na reconstrução de políticas públicas, que haviam sido descontinuadas pelos antecessores. Essa dinâmica foi expressa no slogan "Brasil: união e reconstrução".
Foram relançados programas de
grande destaque nos governos petistas anteriores (2003-2016), como o
Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.
A primeira grande aposta veio com o lançamento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em agosto de 2023, num evento com pompa no Theatro Municipal do Rio. A estimativa é de R$ 1,8 trilhão em investimentos até 2030. Pesquisa Quaest divulgada na semana passada, no entanto, apontou que 48% da população não conhece o programa.
Mesmo dentro do governo há a crítica de que "tudo é Novo PAC". A Casa Civil, sob o comando de Rui Costa (PT), adotou o formato de um grande guarda-chuva, em que o programa abarca desde investimentos da Petrobras até obras de infraestrutura dos ministérios e programas sociais.
O PAC original, argumentam aliados, era mais focado, tinha obras impactantes e mais identificadas com cada região. Há ainda queixas de que, na ponta, parlamentares e políticos locais se apropriam das obras, sem dar créditos ao governo federal. Além disso, empreendimentos maiores levam tempo para serem inaugurados.
Outras iniciativas do governo também passam ao largo do conhecimento pela população, como o programa Acredita (crédito com taxas de juros diferenciadas para pequenos empreendedores) -desconhecido por 60%, segundo a Quaest.
Integrantes
do primeiro e segundo escalão, quando questionados sobre qual pode ser a
"cara" do governo Lula 3, indicam como uma das apostas o programa
Pé-de-Meia (de incentivo à permanência de alunos no ensino médio), do
Ministério da Educação, comandado por Camilo Santana (PT).
Como se trata de transferência de renda por meio de bolsas, o efeito é mais imediato. Além disso, dizem já haver uma identificação na sociedade de políticas de educação com os governos Lula, no geral. Na pesquisa Quaest, a medida é conhecida e aprovada por 69% dos entrevistados.
O programa é frequentemente citado pelo presidente em seus discursos. Além disso, como a Folha de S.paulo mostrou, ele tem sido relançado diversas vezes.
Procurada, a Casa Civil não
respondeu sobre por que não há uma marca do governo após dois anos de
gestão. Sobre o PAC, a pasta disse que foi criada em setembro uma
secretaria especial para centralizar as ações do programa.
A Secom não respondeu aos questionamentos.
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PROGRAMAS DO GOVERNO LULA
Bolsa Família
Repasse total em 2024: R$ 168 bilhões
Número de famílias contempladas: 20,8 milhõesPé-de-meia
Investimento anual: R$ 8 bilhões
Beneficiários: 3,9 milhões de estudantesAlimentação Escolar
Investimento anual: R$ 5,5 bilhões
Beneficiários: 40 milhões de estudantesCompromisso Nacional Criança Alfabetizada
Investimento anual: R$ R$ 1,2 bilhão
Articuladores do compromisso bolsistas: 2 milEscola em Tempo Integral
Investimento anual: R$ 4 bilhões
Novas matrículas criada: 965 mil (2023-2024)Minha Casa Minha Vida
Investimento anual: R$ 12,2 bilhões (do orçamento geral da União) e R$ 128 bilhões (recursos do FGTS)
Moradias
entregues: 41,7 mil unidades habitacionais entregues (modalidades
urbana e rural) e 49 mil unidades com obras retomadasNovo PAC
Previsão de investimento de R$ 1,3 trilhão até 2026Mais Médicos
Investimento em 2024: R$ 5,5 bilhões
Potencial para atender 68,1 milhões de pessoasFarmácia Popular
Investimento em 2024: R$ 3,3 bilhões
Beneficiários: 24 milhões
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